GENTRIFICAÇÃO TURÍSTICA
- Coletivo Ativista
- 28 de out. de 2024
- 4 min de leitura
O Impacto da especulação imobiliária e a urgência por políticas públicas no Brasil

Após provocação do Coletivo Ativista sobre a necessidade combater a gentrificação turística no Brasil, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome oficiou o Ministério do Turismo.
A solicitação enviada para Janara Braga D'avila Moura, Chefe de Gabinete do Ministro de Estado de Turismo, expõe os efeitos severos e crescentes da especulação imobiliária, que expulsa comunidades locais para abrir espaço a empreendimentos voltados para o turismo.
Trata-se de um problema de impacto social profundo que, sem medidas concretas, continuará deslocando famílias e esvaziando o valor cultural de nossos bairros históricos.

A GENTRIFICAÇÃO TURÍSTICA E A AÇÃO DA ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA
A gentrificação turística é um processo que, impulsionado pela especulação imobiliária, transforma bairros tradicionais e comunidades locais em zonas altamente turísticas, afastando moradores de longa data.
Esse fenômeno ocorre quando os investimentos imobiliários são priorizados para atender ao mercado de turismo, elevando os preços dos imóveis e do custo de vida local. O resultado é a perda gradual de um espaço urbano genuíno e culturalmente rico, que acaba cedendo lugar a uma estrutura cada vez mais elitista e homogênea, desenhada para turistas e não para os residentes.
No Brasil, cidades como Rio de Janeiro, Salvador, Maceió, Recife, Fortaleza e São Paulo são exemplos claros dessa pressão. Nos últimos anos, essas regiões passaram por processos intensivos de valorização, com propriedades e aluguéis se tornando inacessíveis aos antigos moradores.
A cultura local, que era o coração desses bairros, é gradualmente substituída por uma estética "pronta para o turista", distanciada das raízes locais e das tradições que outrora atraíam os visitantes.

O PEDIDO URGENTE
Em urgência à situação, o Coletivo Ativista enviou o Ofício 0203/2024, medidas efetivas de controle e proteção para as áreas afetadas. O documento apela à responsabilidade do Estado para desenvolver e implementar políticas públicas que contemplem:
Controle de Preços Imobiliários: Regulamentação dos valores de imóveis em áreas turísticas para evitar o aumento especulativo dos aluguéis e a exclusão dos moradores locais.
Proteção das Comunidades Locais: Incentivos à preservação dos bairros e ao desenvolvimento de programas que integrem a população original ao crescimento turístico, em vez de removê-los.
Políticas de Turismo Responsável: Incentivos a modelos de turismo sustentável, que respeitem as dinâmicas culturais e sociais locais, promovendo uma interação mais autêntica e menos invasiva.
Fomento ao Comércio Local: Prioridade às pequenas e médias empresas locais, como bares, restaurantes e lojas, em detrimento de grandes cadeias que contribuem para a descaracterização das cidades.

A RESPOSTA DO GOVERNO E O PAPEL DO MINISTÉRIO DO TURISMO
O ofício 5817/2024/GM/MDS, encaminhado pelo Ministério do Desenvolvimento ao Ministério do Turismo, reforça a necessidade de ações diretas que impeçam a descaracterização das cidades.
O Ministério do Turismo é chamado a prestar esclarecimentos sobre possíveis medidas que possam mitigar os impactos da gentrificação turística e proteger as comunidades locais.
Em resposta, é esperado que o governo federal desenvolva estratégias colaborativas para garantir um modelo de turismo que valorize e preserve as raízes culturais brasileiras.
A Coordenadora-Geral de Assuntos Técnico-Administrativos do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Thaís Bianca Lima Ribeiro, endossou a importância de avaliar as solicitações apresentadas pelo Coletivo e expressou que o desenvolvimento urbano precisa estar alinhado aos interesses dos moradores, e não exclusivamente ao mercado.

O PREÇO SOCIAL DA GENTRIFICAÇÃO: COMUNIDADES DESFEITAS E CULTURA LOCAL EM RISCO
O impacto da gentrificação não é apenas econômico. É, antes de tudo, um processo de erosão social e cultural. As comunidades afetadas perdem mais do que suas casas: perdem vínculos, tradição e história. A substituição de mercados locais e eventos tradicionais por empreendimentos “para turistas” reconfigura o tecido social e a identidade do bairro, o que, em última análise, enfraquece o apelo turístico genuíno desses locais.
Esse movimento decorre de um entendimento míope do turismo como uma máquina de lucro imediato, sem considerar que a autenticidade e a tradição são, paradoxalmente, o que atrai os turistas de maneira mais significativa. Ao longo dos anos, o Brasil viu bairros inteiros de importância histórica, deixando as populações originais à margem da cidade e da sociedade.

CAMINHOS PARA O FUTURO: TURISMO SUSTENTÁVEL E EQUILÍBRIO SOCIAL
O combate à gentrificação turística passa por um novo modelo de desenvolvimento urbano, que valorize as comunidades locais e sua permanência nas áreas de interesse turístico. A implementação de políticas públicas que protejam esses territórios precisa ser imediata e integrada. É fundamental um diálogo constante com os moradores, incluindo-os nas decisões sobre o futuro do local em que vivem, preservando suas histórias e modos de vida.
A luta contra a gentrificação turística e a especulação imobiliária é, sobretudo, uma luta pela preservação da identidade e da dignidade das cidades brasileiras. O turismo pode, e deve, coexistir com a vida local, e cabe aos poderes públicos garantir que o crescimento econômico ocorra sem comprometer o direito à cidade e à memória coletiva.
A expectativa é que o governo federal atenda a essas demandas e construa um modelo de turismo mais inclusivo, sustentável e culturalmente respeitoso, onde o desenvolvimento não venha às custas das comunidades que sempre deram vida e história aos locais que hoje atraem turistas do mundo todo.
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